Escola Castelo Branco - 2016
Concerto no brejo
Além de cantarem, esses anfíbios têm nomes de músicos famosos
As noites de verão nos brejos são sempre animadas. Sapos,
rãs e pererecas machos coaxam para atrair a atenção das fêmeas. Cada
espécie tem seu canto: alguns lembram um “cururururu”, enquanto outros
soam como “qui-qui”, “fiu-fiu”, “cré-cré”, e por aí vai… uma barulheira
só!
Dentro da mata ou na beira dos riachos, é a mesma coisa – os anfíbios
fazem a festa. Um verdadeiro concerto a céu aberto, lindo de se ouvir.
Por conta de seu talento musical, alguns anfíbios ganharam nomes
científicos que fazem referência a celebridades do mundo da música.
O primeiro foi descoberto em 1987, em uma montanha do Haiti. É um sapinho do gênero Eleutherodactylus (nome
grego que quer dizer “dedos livres”, pois esses animais não possuem
membranas entre os dedos). Seu canto, ao ser gravado e depois
representado graficamente por aparelhos, apresentava frequências em
forma de notas musicais! Por isso, ganhou o nome de Eleutherodactylus amadeus, em homenagem a um grande compositor do século 18, Wolfgang Amadeus Mozart.
Outra espécie que ganhou nome de músico é Pristimantis jorgevelosai,
da Colômbia. O sapo foi batizado em homenagem a Jorge Luis Velosa Ruiz,
um dos criadores do estilo musical conhecido como “carranga”. P. jorgevelosai pode ser encontrado na Cordilheira dos Andes, a mais de 1.900 metros de altitude. Aliás, Pristimantis, em grego, significa “sapo da serra”, um nome perfeito para um bicho que vive em uma montanha tão alta.
Nosso próximo exemplo vem do cerrado de Minas Gerais. Foi lá que
pesquisadores brasileiros descobriram uma nova espécie do gênero Ischnocnema (“panturrilha fina” em grego). Admiradores da música caipira, os especialistas chamaram a nova espécie de Ischnocnema penaxavantinho, em homenagem à dupla sertaneja Pena Branca & Xavantinho, sucesso entre as décadas de 1980 e 1990.
Na Índia, biólogos descreveram, em 2013, um anfíbio que pertencia ao
mesmo tempo a uma nova espécie e um novo gênero. O bicho ganhou o nome
de Mercurana myristicapalustris. O nome do gênero é uma
homenagem a Freddie Mercury, vocalista da banda de rock inglesa Queen,
misturando seu sobrenome com a palavra rana, que significa “rã” em latim. O nome específico myristicapalustris
quer dizer “brejo da noz-moscada” em latim, por causa do ambiente onde a
espécie vive: brejos com árvores de noz-moscada no meio da floresta.
Deve ser um lugar cheiroso!
Mas, quando o assunto é homenagear músicos famosos, nenhum anfíbio ganha das pererecas do gênero Dendropsophus (“que faz barulho na árvore”, em grego). São três espécies com nome de celebridades: a brasileira Dendropsophus ozzyi (por causa do roqueiro inglês Ozzy Osbourne) e as colombianas Dendropsophus stingi (cujo nome homenageia o cantor e ator britânico Sting, que também é ativista pela preservação das florestas tropicais) e Dendropsophus manonegra (“mão preta” em espanhol, em referência às suas patas negras e também à banda de rock francesa Mano Negra).
Música clássica,
sertaneja, carranga e até rock. Existem anfíbios com nomes de artistas
de todos esses estilos musicais. E, como novas espécies continuam sendo
descobertas todos os anos, essa lista pode aumentar no futuro. Se fosse
você o biólogo, daria a uma nova espécie o nome de um artista de quem
você gosta?
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia, UFMG
Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em
pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que
partilha com a gente na coluna O nome dos bichos
Fonte: Ciências hoje
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