quinta-feira, 7 de julho de 2016





Escola Castelo Branco - 2016 

 
Discurso por ocasião do lançamento do livro “Albatroz desvairado”, do professor Francisco Alecrim.

Por professor Paulo Pimentel

Boa noite
Senhoras, senhores e autoridades,
“Embriagai-vos!
Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos”. Charles Baudelaire
Nessa noite memorável, célebre, eis, pois, que você, Bardo piquetcarneirense, alça voo singular na tessitura de labutar, lutar com as palavras, essa luta vã drummondiana que insistentemente lutamos no afã descomunal, colossal. Seu Diomedea exulans desvairadamente voa alucinado, inebriado qual Pitonisa exalando as fumaças empolgantes dos louros a arder nas brasas vivas do fogo oracular, sagrado a apontar setas, veredas, caminhos; seu mergulho nos oceanos profundos do ser que os disseca e analisa as suas entranhas, em um tom visceral, existencialista e prometeico. Inscrevemos, você, no rol da imortalidade, nesse continuum do fazer acadêmico ora revelado, inspirado pela escritura poética que o preenche; suas entranhas abrigaram salutarmente sua cria literária, o albatroz desvairado, foi gestado no cotidiano, no nó relacional criado, nos diálogos, nas amizades, no vezo professoral que o acompanha, lutou, insistiu e em um berro mudando, profano, santo e pecador nasceu dando ao criador como dádiva, o néctar e a ambrosia dos deuses, da imortalidade. Que a modéstia tome meu ser literato agora, mas somos rarae aves nessa missão singular, oferta e doação que Deus nos concede de registrar para os anais da história o sopro onírico, real, fictício ou não, de amores, de desilusões, de encantamentos, de estranhamento, simplesmente, de vida.
Devo, permita-me, meus confrades Osmar e Derlânia que aqui estão, colocá-lo no rol da academia piquetcarneirense de letras, para colher, em seu voo desvariado os louros, porém nos alerta Bandeira “a poeira das extensas estradas percorridas” ainda nos falta; são muitas as estradas a percorrer, as veredas a caminhar. Nós, “os acadêmicos constituímos o estofo de que se compõe a sua perenidade”, nos diz Cavalcanti. A academia será para você um porto seguro, um refúgio necessário após lançar-se pelos mares bravios, enfrentar as tempestades, os fortes vendavais, enfim, estamos aqui para acolhe-lo em um abraço fraternal, maternal e seguro de um cais manso, humilde, sereno. Nesse momento espero que estejam embriagados da sapiência, do prazer e do deleite escritural realizado; mas anseio que vocês, nós reverberamos raios inteligentes para dissipar as trevas nefastas da ignorância; que a arte do instante invada e percorra esse cenário único, real, de tantas histórias vividas ou não, contadas ou não para compor um mosaico que o Fado não destrua, indelével. Mas invoco, clamo a magnificente e sábia Palas Antena para coroar nessa noite das artes, da cultura e do esplendor e tocar levemente cada um com o tom agradável das ciências e da cultura.
O que dizer do albatroz desvairado senão “arbore de dulci, dulcia poma cadunt (de boa árvore, bom fruto). Tive a oportunidade e a satisfação de conhecer e ler e fazer a exegese de seus textos poéticos antes do grande público, em uma função rara de prefaciar a obra parida de seu âmago, de seu sentimento visceral. Percebi o desabrochar espetacular do artífice das letras a burilar os textos; em uma profissão de fé bilaqueana, você foi e é o ourives a lapidar com esmero e refino a matéria-prima nossa de cada dia, permita-me nos incluir, nessa palavra, nesse verbum, nesse poder. Mas precisamos usá-la, a palavra, para o bem, para o engrandecimento do outro, eis, pois, nossa maior missão, meu confrade amigo. Minh’alma navegou, voou nas asas fugazes do Diomedea exulans, fui arrebatado nos seus transes, devaneios, no imagético do seu ser literário; senti as tempestades, furacões, vendavais, mares serenos, oceanos amorosos e predições das realidades impostas.
Digo a vocês amigos, familiares, autoridades, confrades, alunos, professores alcem voo nas asas do albatroz desvairado, enveredem nas vias sinuosas, da antítese do célere e do efêmero, da dualidade do ser. Na missão fulcral de embriagarmos de arte, de cultura, de poesia, de vida.
Parabéns, Francisco. Avante, Bardo desvairado! A nós, Pace et Sapere (Paz e Sabedoria)!

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