segunda-feira, 2 de maio de 2016

Escola Castelo Branco - 2016 

 
» Somos negras e negros! Pretas e pretos!
PARDO É PAPEL

A negritude é atacada pelo racismo todos os dias, de forma direta e indireta, de forma explícita e implícita. Em mais de um século depois da escravidão, nossa sociedade continua perpetuando uma imagem negativa da negritude, nos ridicularizando, nos humilhando. Assista aos programas humor na TV pra ver. A África, nosso lugar de origem, está impressa nos nossos corpos através de nossa cor ou nossos traços e isso o racismo não perdoa.

Nos ensinaram que “ser branco” é sinônimo de beleza, de bondade, de paz, de grandeza. O povo negro é a maioria da população, mas na maioria das vezes somos representados na mídia como empregados, faxineiras, vilões, alcoólatras, assassinos, criminosos - sempre personagens com menos valor ou de papéis negativos. Quando não é isso, nos sobra a hipersexualização, que transforma corpos negros em objeto sexual - quem presta para a mídia é o “negro musculoso de pau grande” ou a “negra bunduda e peituda”. As exceções são sempre isso: exceções.

Vivendo por séculos com esse peso histórico nas costas, sendo representados todo dia de forma negativa, que negro iria querer ser negro? É compreensível que muitas pessoas negras usem outros termos para se referir a si mesmas, como "pardas", “morenas”, “mulatas” (termo bastante racista), e até se considerem “brancas” quando tem pele mais clara.

- Moreno é um branco (caucasiano) de cabelos pretos ou queimado de sol.
- Mulato é um termo racista que vem de mula.
- Pardo não é raça, é uma cor tomada para esconder a negritude ou ancestralidade indígena e aproximar pessoas da branquitude no imaginário social. O fato de ter "pardo" na certidão de nascimento mostra como o Estado brasileiro reproduz a lógica racista de criar uma classificação para falar que você é tão misturado que não é de nenhuma raça. Essa classificação do IBGE é um problema.

Nenhum desses termos acima reconhecem a existência do povo negro. Isso é uma tentativa de exterminar a negritude até mesmo no vocabulário, no imaginário social do Brasil. Por isso o racismo é o crime perfeito: porque a forma mais eficaz de você tentar impedir uma pessoa negra de se defender do racismo é negar a negritude dela. Mas o racismo continua lá, intacto, e reconhecendo e atingindo essa negritude por debaixo do véu da "democracia da miscigenação racial". Não vão te chamar de negro, mas vão tentar te colocar no lugar que o racismo reservou à negritude, seja por seu tom de pele ou por seus traços.

Esse texto não trata desses brancos que, por achar que “está na moda ser negro”, vão alegar que tem um parente ou bisavô negro para dizer que também são negros - ter parente negro não te torna negro. Esse texto se trata de negros que mergulharam na ilusão de que não são negros ou que são “quase brancos”, por conta de um processo histórico, social e cultural que sempre desvalorizou a negritude. Negro que tenta fingir para si mesmo que é “moreno” ou até “branco”, mas cujo fenótipo não nega quem ele é para essa sociedade racista.

"Há pessoas negras que introjetaram o ideal de branqueamento e não se consideram como negras. Por isso, a questão da identidade do negro é um processo doloroso.” - Kabengele Munanga, antropólogo.

É doloroso, mas tem cura. E essa cura passa pelo apoio e fortalecimento coletivo. Construindo laços entre nós, entendendo e respeitando nossa diversidade.

Precisamos criar espaços de apoio e fortalecimento mútuo entre nós. É preciso que nós, negras e negros, incentivemos nossas irmãs e irmãos a aceitarem sua negritude. Não se trata de uma mera “declaração”, mas de aceitação. De um processo de entendimento sobre quem você é, sobre sua história, sobre como o racismo age no nosso dia-a-dia e te atinge. Um processo de cura que te permita aceitar a negritude que você nunca conseguiu esconder de verdade - por mais que tentasse.

Porque o racismo não confunde um negro.

Negro e negra, sim! Preta e preto, sim!

PARDO É PAPEL!


Fonte: afroguerrilha

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. É imensamente revoltante que nos dias atuais ainda haja esse tipo de preconceito totalmente arcaico. Pois os negros lutaram desde sempre para conseguir igualdade racial e social, isso implica em muitas mortes e sangue derramado, não devemos nos esquecer da KKK (Ku Klux Klan)um ato totalmente racista de extermínio aos negros.
    É notável que muitos indivíduos que conservam esse pensamento errôneo sobre os negros não conhecem sequer a luta dos mesmos por essa igualdade, alguns apenas resolvem fingir-se de ignorantes, tornando se assim indivíduos desprovidos de respeito e caráter

    ResponderExcluir